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Após impeachment, São Paulo tem noite de confrontos em protesto
Após a aprovação do impeachment de Dilma Rousseff e posse de Michel Temer como novo presidente da República, o centro de São Paulo teve noite de protestos nesta quarta (31).
Manifestantes contrários ao impeachment entraram em confronto com a Polícia Militar em pelo menos quatro pontos da cidade.
O primeiro confronto aconteceu na rua da Consolação, onde manifestantes foram dispersados por bombas de efeito moral. Segundo a Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo, a polícia reagiu depois que um "grupo começou a incendiar montes de lixo e agredir policiais com pedras".
Ao menos sete pessoas ficaram feridas. Fotógrafos que cobriam protesto sofreram agressões de policiais militares e o prédio da Folha foi atacado.
Essa é a segunda vez na história que um processo de impeachment resulta na queda do chefe do Executivo. Sob suspeita de corrupção, Fernando Collor de Mello (1990-1992) renunciou horas antes da votação do seu processo, mas o Senado decidiu à época concluí-la, o que culminou na condenação por crime de responsabilidade.
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"Qualquer governo cai quando existe base jurídica. E aqui estão os motivos: as pedaladas fiscais", diz José Medeiros
'O que está carcomido é poder de compra dos brasileiros', diz senador
O senador José Medeiros (PSD-MT) rebateu a metáfora usada pela presidente afastada Dilma Rousseff para falar sobre o processo de impeachment.
Dilma citou que, ao contrário do golpe militar, "em que a árvore é derrubada", o processo atual é um "golpe parlamentar", em que a árvore é corroída por parasitas.
"A árvore da democracia nunca esteve tão firme. O que está sendo atacado por cupins é o poder de compra dos brasileiros", afirmou.
"O que levou à tempestade perfeita deste governo é que a economia derreteu. Todo governo é sustentado no tripé base popular, apoio político e que economia funcione bem. Se esse tripé não funcionar, cai qualquer sistema de governo", disse.
Medeiros mostrou um gráfico e afirmou que "pedalada fiscal é crime". Ele perguntou à Dilma se ela "vai continuar com as lampanas da eleição de 2014".
É a vez do senador José Medeiros (PSD-MT) questionar Dilma Rousseff.
'Me condenem que este golpe será irreversível, diz Dilma
"Se me julgarem sem crime de responsabilidade, senador, é golpe. Um golpe integral", afirmou Dilma em sua resposta ao senador Aloysio Nunes.
Sobre o fato de não ter recorrido ao STF (Supremo Tribunal Federal) até o momento, ela disse que não o fez porque ainda não esgotou a participação no Senado. "Eu não recorri porque respeito essa instituição", afirmou. "Eu disse na minha fala, respeito meus julgadores porque chegaram aqui com os mesmos votos que me elegeram nas urnas."
"É fundamental que vivemos em uma etapa diferente, fim da Guerra Fria. E essas características quase inviabilizaram o golpe militar. Não sou eu que estou inventando, há uma profusa literatura a respeito do chamado golpe parlamentar", disse.
"Quando qualquer sistema político aceita condenar um inocente, você cria um nível de exceção que terá consequências políticas", disse Dilma.
"Não estou aqui dizendo que hoje está tendo um golpe de Estado. Estou dizendo 'me condenem que este golpe será irreversível'. E aí uma das maiores instituições do país, o Senado da República, terá cometido um crime contra uma pessoa inocente", afirmou.
Termo usado por Dilma rende críticas por senadores adversários
Presidente da comissão do impeachment, o senador Raimundo Lira, também criticou o uso, por Dilma, da palavra golpe.
Ele disse não fazer sentido que ela utilize a expressão na presença do presidente do STF. Lira, que decidiu votar a favor do impeachment, avalia que o discurso da petista não mudará opiniões e espera a partir de 59 votos por sua saída definitiva da Presidência.
Aloysio Nunes rechaça acusação de 'golpe'
Em sua pergunta, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) acusou Dilma de descumprir "dever da transparência" e rechaçou a classificação do processo de impeachment como "golpe".
"Como golpe? Com supervisão do Supremo Tribunal Federal? Com a senhora exercendo todo o direito de defesa em todas as instâncias?", questionou Nunes.
"Este processo vai sim gerar precedente sério daqui para frente. Se a senhora perder seu mandato, nenhum governante haverá de abusar de suas competências. Por que não recorreu até agora a quem pudesse socorrê-la?", perguntou o tucano.
Entrada no Senado é controlada
Na entrada do Salão Azul, dois funcionários estão responsáveis por autorizar a entrada apenas de parlamentares.
Para isso, fazem a conferência na base do cara-crachá: um deles tem um caderno em punho com as fotos dos 513 deputados. Sem cerimônia, ele pergunta: "Qual o nome do senhor?" e só libera o acesso depois de checar a foto da pessoa no seu caderno de fotografias.
É a vez do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) questionar Dilma Rousseff.
Dilma cita crise econômica global em resposta à Tebet
A presidente afastada acusou a oposição de "criminalizar a política fiscal" na argumentação pelo processo de impeachment.
"Não foi o Brasil que passou por uma crise. A senhora [senadora] falou que começamos a maquiar [as contas públicas] desde 2009. Não, desde 2009 começamos a enfrentar a maior crise do mundo desde 1929", afirmou Dilma.
Ela defendeu medidas tomadas no governo Lula, que assumiu "políticas anticíclicas para impedir que efeito principal da crise chegasse até nós".
"Os bancos europeus estavam completamente bichados", afirmou. "Senadora, eu não inventei a crise não, viu?"
"O Fundo Monetário Internacional tem revisado as políticas de austeridade fiscal, porque tem horas que elas não dão certo", disse. "É impossível superar uma crise da dimensão da que nós superamos só cortando."
Gostos contrários
Ex-ministros de Dilma usam uma só palavra para falar do discurso a petista: histórico. Dizem que Lula endossa essa avaliação.
Tucanos dizem que Dilma não está respondendo a questionamentos dos senadores.