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Lula fala a Moro por quase 5 horas sobre caso do tríplex; acompanhe
Em uma audiência que durou quase cinco horas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva depôs nesta quarta (10) ao juiz Sergio Moro, em Curitiba.
O ex-presidente chegou à sede da Justiça Federal, onde a audiência estava marcada para as 14h, por volta das 13h45. Usando uma gravata com as cores da bandeira do Brasil, ele acenou para apoiadores.
A audiência foi fechada. O juiz proibiu até a entrada de celulares na sala da audiência para evitar a divulgação do conteúdo do depoimento.
Nesse processo, Lula é acusado de receber propina da empreiteira OAS em troca de benefícios à empresa na Petrobras nos governos petistas.
O petista sofreu reveses na véspera de seu depoimento e recorreu ao STJ. Nesta quarta, porém, o tribunal negou o pedido da defesa para adiar o depoimento.
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Lula se irrita com Moro em depoimento
O ex-presidente Lula se irritou ao ser seguidamente questionado pela Procuradoria sobre se havia perguntado a João Vaccari Neto, ex-presidente do PT, se ele tinha recebido vantagens indevidas em nome do partido, conforme relataram delatores.
Inicialmente, disse que não conversava de finanças do PT porque não integrava a direção do partido. Após insistências para responder se havia questionado Vaccari, disse: "Não importa se eu perguntei ou não. Ele sempre negou. Negou pela imprensa, negou publicamente". Depois, disse que "não interessa se eu perguntei ou não".
Como o procurador insistia na pergunta, Lula disse: "Para acabar com a nossa polêmica aqui, vamos dizer. Eu perguntei e ele disse que não. (...) Tá bem assim? Porque você precisava de qualquer jeito uma resposta e então eu estou dando a resposta. Ia ficar nesse trocadilho entre o procurador e um ex-presidente, então eu quero resolver isso. (...) Espero que não seja por essa resposta minha que eu seja condenado".
Após o fim das perguntas da Procuradoria, o ex-presidente pediu um intervalo antes de seguir para perguntas de advogados. "Vamos fazer um intervalo de dois minutos? Eu sou o único velhinho aqui, gente."
Lula continua a falar do tríplex a Moro
Lula diz que Marisa esteve no apartamento uma segunda vez com o filho Fabio, mas que ele só soube depois. Não soube dizer quanto tempo depois veio a saber.
"Certamente ela ia dizer que eu não queria mais o apartamento, porque, quando fui ao apartamento, eu percebi que ela praticamente inutilizável por mim pelo fato de eu ser independentemente da minha vontade uma figura pública e eu só poderia ir naquela praia ou segunda-feira ou Quarta-Feira de Cinzas", afirmou o ex-presidente.
Lula, então afirma que descartou imediatamente a compra do triplex, mas que sua mulher ainda tinha dúvidas. "Eu não ia ficar com o apartamento, mas a Dona Marisa ainda tinha dúvida se ia ficar para fazer negócio, ou não."
Moro pergunta se ela decidiu não ficar. "Não discutiu comigo mais", ele respondeu.
Lula afirmou que "não sei por que, mas não comuniquei" a Leo Pinheiro que não ia ficar com o apartamento.
Lula fez alerta a Moro no fim do depoimento
Ao final do depoimento, Lula criticou Moro por decisões tomadas por ele, como o fato de ter sido alvo de condução coercitiva e o vazamento de gravações envolvendo sua mulher, Marisa.
"O senhor sem querer talvez entrou nesse processo. Porque o vazamento de conversas da minha mulher e com meus filhos foi o senhor que autorizou. Eu não tinha o direito de ter minha casa molestada sem que eu fosse intimidado para uma audiência, doutor. Ninguém nunca me convidou. De repente, eu vejo um pelotão da PF, levantaram até um colchão da minha casa achando que eu tinha dinheiro, doutor", disse Lula.
Ele, ao finalizar seu depoimento, fez também um alerta a Moro: "Eu queria lhe avisar uma coisa: esses mesmos que me atacam hoje, se tiverem sinais de que eu serei absolvido, prepare-se, porque os ataques ao senhor vão ser muito mais fortes", afirmou.
Moro respondeu: "Infelizmente, eu já sou atacado por bastante gente, inclusive por blogs que supostamente patrocinam o senhor. Então, padeço dos mesmos males em certa medida", declarou o juiz.
Lula fala em depoimento sobre desistência da compra do tríplex
Moro pergunta se Lula avisou Léo Pinheiro ou se Marisa avisou [da desistência da compra do tríplex]. O ex-presidente diz que não avisou e que não sabe se Marisa avisou.
O juiz questiona se depois da prisão de Léo houve algum desdobramento sobre o tríplex. Lula responde que não. Moro pergunta se houve alguma conversa sobre o preço do apartamento com o Léo Pinheiro.
"Houve. Em 2013, no Instituto, estava comigo o companheiro Paulo Okamotto, e o Léo começou a mostrar a ideia do apartamento. O Okamotto perguntou quanto era o metro quadrado, e o Léo respondeu um valor que eu não me lembro qual, e o Okamotto só falou: 'você sabe, Léo, que o preço tem que ser o de mercado, mas eu sou contra o Lula comprar'. Foi só isso"
Moro cita o valor que a OAS teria desembolsado com as reformas supostamente feitas para Lula no apartamento e pergunta se ele alguma vez conversou sobre isso. "Não. Até porque nunca falei de reforma. Como eu considero esse processo ilegítimo e a denúncia uma farsa, eu estou aqui em respeito à lei, à nossa constituição, mas com muitas ressalvas aos procuradores da Lava Jato".
Moro pede paciência. "Eu tenho paciência, mas perguntar coisa para mim sobre uma pessoa que já morreu é muito difícil". "Eu imagino, eu imagino", respondeu Moro.
Moro começa a perguntar sobre as trocas de mensagens de Léo Pinheiro com terceiros, que foram encontradas no celular dele, apreendido pela PF. Algumas envolvem também o sítio em Atibaia, cujo tema Lula e sua defesa refutam dar qualquer resposta, por não ser o escopo da investigação.
"Se tem alguém que quer a verdade sobre mim sou eu mesmo. Quando chegar o inquérito do sítio, terei um imenso prazer de estar aqui. Mas agora é hora de resolver o triplex. Eu quero resolver esse problema"
Moro cita uma mensagem de executivos sobre os projetos de reformas que fala da abertura de dois centros de custos: Zeca Pagodinho - Sítio e Zeca Pagodinho - Praia. Ele pergunta se Lula sabia de algo.
"Você sabe que quando eu vi o depoimento do Léo e vi ele citando o Zeca Pagodinho eu até gostei porque eu gosto muito do Zeca Pagodinho. E fiquei sabendo disso no depoimento, porque eu nunca soube que ele me chamava de Zeca Pagodinho. Mas eu nunca falei disso, nunca me falaram sobre isso".
Ex-presidente alfineta juiz ao falar de Alberto Youssef
Lula chegou a alfinetar Moro no depoimento ao lembrar da soltura do doleiro Alberto Youssef, que voltou a cometer crimes após firmar um acordo de colaboração no caso do Banestado, na década passada.
O juiz insistiu em perguntas sobre o grau de conhecimento do petista sobre irregularidades cometidas por ex-diretores da Petrobras, e Lula disse: "Nem eu nem o senhor, nem o Ministério Público, nem a Petrobras, nem a imprensa, nem a Polícia Federal. Todos nós só ficamos sabendo quando foi pego no grampo a conversa do Youssef com o Paulo Roberto [Costa]."
Moro disse: "O senhor que indicou ele ao Conselho de Administração da Petrobras. É uma situação diferente de mim, que não tenho nada a ver com isso, nunca participei disso."
Lula responde: "O senhor que soltou o Youssef e mandou grampear. Poderia saber mais do que eu."
O juiz responde que decretou a prisão de Alberto Youssef, "o que é um pouco diferente".
Tríplex foi tema de conversa entre Lula e procuradores
"Vocês estão exigindo de mim uma objetividade que eu ainda não exigi de vocês. Eu vou exigir de vocês, ao terminarem a palavra e eu puder falar, é que vocês me apresentem o documento [que prova] que o apartamento é meu. Porque essa é a prova: o resto é conversa fiada", diz Lula aos procuradores da Lava Jato.
'O senhor tem que reclamar com sua sucessora', diz Moro
"Adoraria ter sido convidado para a inauguração [da refinaria Abreu e Lima], mesmo quando começaram as denúncias da Lava Jato. Adoraria ter ido lá fazer um discurso para o povo de Pernambuco do significado da refinaria. Prenda-se o ladrão, mas deixa a refinaria produzir riqueza nesse rincão tão esquecido do Brasil", disse Lula.
E continuou: "Doutor, eu não fui convidado para a Copa do Mundo, que fui eu que trouxe para cá. Eu não fui convidado para as Olimpíadas. Ex-presidente, doutor... Não queira ser ex-ministro, ex-juiz que o senhor vai ver o que vai lhe acontecer", afirmou.
Então Sergio Moro comentou: "O senhor ex-presidente aí tem que reclamar com a sua sucessora, né?"
Lula minimiza sua influência sobre o PT em depoimento
Lula tentou minimizar a sua influência sobre o PT e disse que não participou de reuniões do partido a partir de sua eleição à Presidência, em 2002.
Ao falar das irregularidades na Petrobras, disse que, se tivesse conhecimento, nenhuma das empreiteiras envolvidas prestaria serviço à estatal.
"Quem monta cartel para roubar não conta para ninguém. O presidente da República não participa do processo de licitação da Petrobras, não participa de tomada de Petrobras. É um problema interno da Petrobras."
Ele se comparou a posição de um ex-presidente a um "vaso chinês". "Um ex-presidente vale tanto quanto um vaso chinês. É bonito, que você ganha quando é presidente. Quando você deixa a Presidência, você não tem onde colocar ele. Você não sabe como colocar ele, você não sabe como cuidar de um ex-presidente. Você não sabe como cuidar de um vaso chinês."
Lula, porém, falou que foi o presidente que "mais visitou" a Petrobras, o que chamou a atenção de Moro na audiência. A seguir, disse que não participava de licitações ou tomadas de preços da companhia.
Questionou o juiz sobre o valor de devolução de dinheiro no acordo de delação do ex-gerente da estatal Petrobras: "R$ 204 milhões. Roubou muito, hein?"
Sobre as indicações políticas, disse: "Agora o Ministério Público poderia fazer um PIC [procedimento investigatório criminal] para saber como o Temer montou o governo dele."
'Instituto não tinha dinheiro em 2010', diz Lula
O ex-presidente Lula disse que o Instituto Lula não pagou pela armazenagem de bens que ele trouxe do Palácio do Alvorada, bancada pela OAS, porque "nunca [se] discutiu no Instituto de que era preciso pagar isso". Ele disse acreditar que o ex-executivo da OAS, Léo Pinheiro, foi procurado por Paulo Okamoto porque o instituto "não tinha dinheiro" no começo de 2010. "Nós não tínhamos dinheiro, porque não tínhamos nem começado a pensar em fazer a arrecadação."
O ex-presidente foi indagado pelo Ministério Público Federal por que, mesmo tendo recebido mais de R$ 7,5 milhões em lucros por palestras, Lula não resolveu pagar pela armazenagem, que seria de R$ 20 mil mensais. Lula disse que "talvez todo mundo [no Instituto] achasse que tivesse certo e que não era preciso [pagar]".
Lula disse que não é tesoureiro nem diretor do Instituto Lula, que ele chamou pelo nome antigo, "Instituto Cidadania", e sugeriu que seu amigo Paulo Okamoto poderia esclarecer pontos em dúvida.Lula nega conhecimento de propina ao PT
Em depoimento ao juiz Sergio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou que tivesse conhecimento do esquema de pagamento de propina ao PT em contratos da Petrobras. "Se tivesse [conhecimento], eles seriam presos bem antes", disse Lula.
"O senhor Léo Pinheiro [da OAS] declarou aqui em juízo que a OAS pagava propina a agentes da Petrobras e a agentes do Partido dos Trabalhadores em contratos da Petrobras. O senhor ex-presidente tinha conhecimento disso?", questiona Moro.
"Isso é eles que estão dizendo", responde Lula. Diante da insistência de Moro, ele responde que não sabia.
Lula negou também que soubesse de uma conta de propina acertada entre Pinheiro e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT.
"O sr. Léo Pinheiro ainda declarou que a diferença do preço entre o apartamento simples para o apartamento tríplex e que o preço das reformas do apartamento tríplex, tudo isso em torno de R$ 2,424 milhões, teriam sido abatido da propina devida dessa conta geral de propinas. O sr. ex-presidente tinha conhecimento disso?", pergunta o juiz.
"Não", responde Lula.
"O sr. João Vaccari Neto consultou o sr. ex-presidente a respeito disso?", continua Moro. "Nunca."