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Lula fala a Moro por quase 5 horas sobre caso do tríplex; acompanhe
Em uma audiência que durou quase cinco horas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva depôs nesta quarta (10) ao juiz Sergio Moro, em Curitiba.
O ex-presidente chegou à sede da Justiça Federal, onde a audiência estava marcada para as 14h, por volta das 13h45. Usando uma gravata com as cores da bandeira do Brasil, ele acenou para apoiadores.
A audiência foi fechada. O juiz proibiu até a entrada de celulares na sala da audiência para evitar a divulgação do conteúdo do depoimento.
Nesse processo, Lula é acusado de receber propina da empreiteira OAS em troca de benefícios à empresa na Petrobras nos governos petistas.
O petista sofreu reveses na véspera de seu depoimento e recorreu ao STJ. Nesta quarta, porém, o tribunal negou o pedido da defesa para adiar o depoimento.
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Depoimento a Moro
Ao falar de Pedro Corrêa, ex-deputado preso no mensalão e da Lava Jato, Lula citou uma frase que atribuiu ao ex-governador pernambucano Eduardo Campos. "Ele [Campos] dizia para mim o seguinte: um político que usa terno branco, sapato branco e Rayban verde não tem como ficar na oposição quem quer que esteja no governo."
Disse que não tinha relação com Pedro Corrêa e não tinha nenhum interesse em falar com ele.
Depoimento a Moro
Em seu depoimento, Lula disse só ter tratado do tríplex em Guarujá com Léo Pinheiro, da OAS, em uma visita do sócio da empresa ao Instituto Lula e no dia em que o petista foi visitar o prédio. "Nunca mais tratei de tríplex nem de 'quatruplex'", disse.
O ex-presidente também foi questionado sobre contatos telefônicos entre Pinheiro e Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, que antecederam visita do sócio da OAS à entidade que leva o nome do petista. Sobre os contatos, disse que "os dois são vivos, pode perguntar para eles", rindo. O petista afirmou ainda que "o Léo não tratava de tríplex, o Léo tratava de empresa, o Léo tratava de economia".
Depoimento a Moro
O ex-presidente Lula, ao final de seu depoimento, fez referência à famosa apresentação em Power Point feita pela força-tarefa da Lava Jato. "Estou sendo julgado pela construção de um Power Point mentiroso. Aquilo é ilação pura. Aquilo deve ter sido um ou alguns cidadãos, com todo respeito, que, desconhecendo a política, fizeram um Power Point porque já tinham a tese anterior de que o PT era uma organização criminosa e que o chefe era o Lula e que o Lula montou o governo pra roubar".
"Eu tenho 71 anos de idade, 5 filhos e oito netos, e tenho netos de 4 anos de idade, de 5 anos de idade, que sofrem bullying na escola por conta de mentiras", continuou.
"O dr. Dallagnol deveria estar aqui para explicar aquele famoso Power Point. Aquele Power Point não está julgando Lula pessoa física ou jurídica, está julgando Lula presidente da República", diz.
Lula dá depoimento em Curitiba
No depoimento, Moro pergunta de quem foi a decisão de não ficar mais com o apartamento e se ela foi de fato tomada. "O apartamento, nunca, nunca, nunca, foi me oferecido antes da data que eu fui lá ver. E quando eu fui ver eu não gostei. Foi isso".
Depois, o juiz questiona se não havia promessa de Léo Pinheiro para reformar. "O Léo disse que ia voltar a conversar comigo. Depois de todos os defeitos que eu disse, ele disse que ia fazer uma uma proposta e eu nunca mais conversei com o Léo".
Moro pergunta se Marisa relatou algo sobre as reformas depois da segunda visita. "Ela disse que não tinha gostado do apartamento. E eu tinha insistido que ela não gostava de praia e eu gostava, mas eu não tinha gostado do apartamento, eu acho que ela tomou a decisão de não comprar. [Marisa] Não relatou [sobre as reformas]. Lamentavelmente ela não está viva para perguntar".
Moro usa respostas do Lula na condução coercitiva para dizer que há contradição nas respostas. Que à época, Lula havia dito que Marisa havia relatado que não havia "nada" no apartamento. "Ela disse que não tinha nada, que estava do mesmo jeito do dia que a gente foi lá".
Moro pergunta se a falta de realização dessas reformas, em agosto de 2014, de elevador e cozinha, foi motivo para não ficar com o apartamento. "Não ia ficar porque não tinha como ficar. Eu não tinha solicitado e não quis o apartamento".
Lula fala do tríplex em depoimento
"Nunca houve intenção de adquirir o triplex", disse Lula. O petista repetiu ao menos três vezes que "fiquei sabendo do apartamento no ato da compra, em 2005, que era um investimento e fiquei sabendo em 2013 quando fui procurado" por Leo Pinheiro.
"Pelo que eu tenho ouvido aqui nos depoimentos, esse apartamento foi dado em garantia umas 50 vezes parece para outras pessoas para quem a OAS devia."
O ex-presidente afirmou que esteve uma única vez no apartamento, em 2014, com Marisa Letícia. "O Leo esteve no escritório dizendo que o apartamento tinha sido vendido e que ele tinha mais um dos normais e o triplex. Fui lá ver o apartamento, coloquei 500 defeitos no apartamento, voltei e nunca mais conversei com o Leo sobre o apartamento", afirmou o petista.
Ex-presidente fala de 'mês Lula' a Moro
Lula afirma, no depoimento, que este período será conhecido como "mês Lula". "O que aconteceu nos últimos 30 dias vai passar para a história como o mês Lula. Porque foi o mês em que vocês trabalharam, sobretudo o Ministério Público, para trazer todo mundo para falar uma senha chamada Lula. O objetivo era dizer Lula. Se não dissesse Lula, não valia."
"O senhor entende que existe uma conspiração contra o sr?", questiona Moro.
"Não, eu entendo e acompanho pela imprensa, que pessoas como Léo Pinheiro, que está já há algum tempo querendo fazer delação. Primeiro ele foi condenado a 23 anos de cadeia. Depois se mostra na televisão como se vive a vida de nababo dos delatores. [...] Delatar virou quase o alvará de soltura dessa gente."
Depoimento a Moro
"Eu sei que o senhor é muito jovem, e jovem tem menos paciência com velho", disse Lula a Moro em depoimento.
Depoimento a Moro
Lula confirmou que teve um encontro com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, que na semana passada acusou o petista e relatou que a reunião ocorreu no Aeroporto Congonhas, em 2014.
O ex-presidente disse que articulou a reunião por meio do então tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que está preso no Paraná.
"Tinha vários boatos no jornal de corrupção, de conta no exterior. Pedi para o Vaccari trazer o Duque para conversar. Não tenho ideia, doutor [da data]. A pergunta que eu fiz para o Duque foi simples: tem matérias nos jornais, tem denúncias de que você tem dinheiro no exterior, pegando da Petrobras. Você tem conta no exterior? Ele disse: "Não tenho". Acabou. Não mentiu para mim, mentiu para si mesmo."
Moro pergunta a Lula por que procurou Duque. "Mas eu falei por que chamei. Acabei de falar. A sua secretária deve ter escrito aí. Eu disse que tinha muito boato de que estava sendo roubado dinheiro, que o Duque tinha conta no exterior. Eu falei com o Vaccari: se você conhece o Duque, eu quero falar com ele. Duque, é o seguinte: você tem conta no exterior? Não tenho. Acabou. Para mim era o que interessava", disse o ex-presidente.
Ao ser questionado sobre Paulo Roberto da Costa, Lula disse: "Duque tinha sido indicado pela bancada do PT. Como eu disse no começo. O PT indicou o Duque com outros partidos políticos, eu penso, que foi pra Casa Civil cumprir todo o ritual. Então eu fiquei muito puto da vida. Muito puto, sabe, e falei e ele disse que não. Se ele disse que não, ele não mentiu para mim. Ele mentiu para a consciência dele."
Lula critica a imprensa em depoimento
Em seu depoimento a Moro, Lula critica a cobertura da imprensa.
"Os outros depoimentos que deram sobre mim, quais foram as manchetes no dia seguinte? Qual era o tratamento que o Jornal Nacional dava? Era de criminalizar a figura do Lula"
"De março de 2014 para cá são 25 capas da 'Isto É'. A 'Veja' tem 19 capas. E a 'Época' 11 capas. Demonizando o Lula", disse.
"Nesse mesmo período, a Folha de S. Paulo teve 298 matérias contra o Lula e apenas 40 favoráveis, tudo com informaões da PF e MP. Eles não se autoassumem, eles culpam alguém. 'O Globo', que é o mais amigo [sendo irônico], tem 530 matérias negativas contra o Lula e 8 favoráveis. O 'Estadão', que é mais amigo ainda, tem 318 matérias contrárias e 2 favoráveis. Aliás, esses jornais parecem que tem mais informações do que alguns advogados".
E continuou: "Só o Jornal Nacional passou 18 horas falando. Sabe o que significa 18 horas falando mal de um cidadão? Significa 12 partidas de futebol entre Barcelona e Atlético de Madrid".
Ex-presidente fala de morte da mulher a Moro
"Eu só queria, dr. Moro, pedir uma coisa: é muito difícil para mim toda hora que o senhor cita minha mulher sem ela poder estar aqui para se defender", afirma Lula.
"Eu não estou acusando ela de nada, senhor ex-presidente", responde o juiz.
"Eu sei que não, mas o senhor pergunta coisa, se eu vi, se eu não vi. É uma pena... E uma das causas que ela morreu foi a pressão que sofreu."